Quem trabalha com conteúdo sabe a importância de produzir algo que funcione bem para cada mídia. Por mais que os jornalistas reconheçam que rádio é diferente de televisão, que é diferente de impresso e nenhum deles é igual à internet, sabemos que na hora do “vamos ver” o que é publicado acaba desobedecendo essa regra.
Com o crescimento dos grupos de comunicação, os conteúdos acabaram sofrendo algo parecido com uma “desterritorialização”. O conteúdo que foi pensado para o jornal é enviado para a TV, que tem sua abordagem reproduzida no rádio. Depois de ser exaurido nas mídias tracionais, a matéria chega à internet, onde é rudemente transcrita e postada rápido, sem pensar em como esse conteúdo vai ser consumido.
Chegamos então a um problema bastante sério: fazer conteúdo para mídia online e digital é igual aos suportes já conhecidos pelos comunicadores? Não. Não é. Apesar de blogs e muitos portais usarem estruturas “milenares” como o lead e a pirâmide invertida, o formato “internet” tem suas especificidades. Não existem padrões e fórmulas para ter sucesso nesse meio, mas uma coisa é certa: não repita as mesmas regras do que já foi feito.
Agora vamos ao que motivou este post. Muitos jornais que se dizem “os primeiros a terem chegado à internet” pecam de forma grave no seu conteúdo. Pegar aquele texto que estava no impresso e republicar na internet pode ser muito prático, mas é correto? Não me refiro às questões ligadas à autoria de texto, já que o grupo não muda de linha editorial por estar em novas formas de jornalismo. O problema é o uso de um conteúdo que não conquista o leitor.
Normalmente, são textos enormes que dificilmente fariam Jenkins dizer ” nice job, my journalists “. A preocupação está em colocar as tais hard news em um novo lugar. A impressão que eles passam é de um jornalismo pouco comprometido com o tipo de leitor de cada plataforma. O que interessa é chegar primeiro no iPad e no iPhone, para eles. Mas depois de ter chegado nessas tecnologias mobile , o que vai ser feito por lá? Enviarão o mesmo conteúdo que está no jornal, na TV, no rádio e também no portal?
Colocar o mesmo conteúdo do Twitter no Facebook, ligando as duas redes através de aplicativos é outro exemplo de como não fazer a estratégia entre mídias. O Twitter tem suas características próprias que apesar de serem sucintas e objetivas, não funcionam bem em um espaço como o Facebook. Esta é uma relação parecida com a extração do áudio da TV para poder ser reproduzido no rádio.
Um caso triste dessa corrida pelo iPad foi o projeto The Daily, da News Corp. Apesar de ter recebido um investimento monstruoso até para as gigantes do american newspaper business , a consolidação do primeiro jornal exclusivo do tablet mais vendido do mundo foi um grande fiasco. Visualmente, o aplicativo é lindo e funcional. Porém, o conteúdo está muito longe de ser algo equivalente ao The New York Times do iPad. Ainda falta entender que o texto para o meio digital não significa, também, copiar o que está na internet.
Vale apena chegar primeiro e não saber o que fazer com o troféu do primeiro lugar? A verdade é que querer cair no gosto de todos por ser o pioneiro não quer dizer nada se o seu conteúdo não representa nada a não ser um ruído desinteressante. Dedicar mais tempo ao que cada meio exige é mais importante do que manter um profile bonitinho no seu Facebook, ser bem ranqueado no Google ou receber milhões de replies no Twitter.