Desde que a humanidade reconheceu a importância da comunicação entre diferentes pontos do mapa para os mais diversos propósitos, as redes sociais estavam estabelecidas. Provavelmente, tudo começou com um mensageiro de sandálias e túnica de linho, lendo em praça pública recadinhos da realeza escritos em pergaminhos e esperando a notícia correr solta. Até que a internet permitiu a evolução do formato para os sites que conhecemos hoje, como Facebook e Twitter.
Nesse sentido, a história das mídias sociais não é apenas uma curiosidade: esse conhecimento nos permite contextualizar os processos de comunicação e as dinâmicas de consumo de cada época. Assim, é possível desenvolver também uma melhor percepção sobre o comportamento do usuário-consumidor para planejar campanhas mais relevantes ao público.
Partindo desse princípio, vamos concentrar nosso histórico nas mídias sociais “divisoras de águas” — as que promoveram marcantes mudanças no padrão das interações humanas e, consequentemente, revolucionaram as estratégias de marketing do nosso tempo.
Os precursores: Classmates (1995) e Six Degrees (1997)
O Classmates.com foi o primeiro a materializar a vontade de reencontrar pessoas, sobretudo amigos da escola ou da faculdade. A interface era bem simples e o serviço era pago. Depois, a rede Six Degrees aprimorou a ideia, tornando-se o primeiro modelo de mídia social mais próximo dos que conhecemos hoje: permitia a criação de perfis, envio de mensagens privadas e publicações em murais.
Novos parâmetros: Friendster (2002)
Sucesso absoluto no lançamento, chegando a alcançar 3 milhões de usuários, o Friendster causou um verdadeiro frissom ao ir além de reencontrar amigos: ele também se consolidou como canal para viabilizar novos relacionamentos, inclusive namoros. A ideia era fazer com que as pessoas encontrassem interesses românticos entre os amigos de seus amigos.
Tamanho sucesso foi, ao mesmo tempo, a bênção e a maldição: o crescimento, alcançado quase da noite para o dia, levou milhões de usuários ao site. Isso criou dificuldades técnicas que tornaram a navegação lenta e difícil, dando espaço para o avanço de concorrentes como o MySpace e o Facebook nos anos seguintes.
A rede multimídia: MySpace (2003)
O MySpace foi a primeira tentativa de aprimorar as funções do Friendster, e conseguiu isso pela possibilidade de customização dos perfis com diversos recursos multimídia, como fotos, vídeos, músicas e personalizações de código.
Sua apropriação mostrou que não necessariamente uma mídia social pode nascer e permanecer com o mesmo propósito: de site de relacionamentos, o MySpace tornou-se vitrine musical de bandas independentes, redirecionando seus objetivos conforme o movimento dos usuários.
Uma interface profissional: Linkedin (2003)
A essa altura, o empresário americano Reid Hoffman teve um insight: os mesmos princípios que reuniam adolescentes nas mídias sociais anteriores poderiam ser seguidos com diferentes propósitos para contatos profissionais. Nascia, então, o Linkedin, que substituiu o perfil descolado por outro mais sério, em forma de currículo, e possibilitou movimentos de networking, recrutamento, seleção e negociações diversas por meio da rede. Em 2018, ultrapassou os 500 milhões de usuários — 32 milhões deles só no Brasil.
O fenômeno brasileiro: Orkut (2004)
O Orkut foi descontinuado no dia 30 de setembro de 2014: certamente, uma das datas mais tristes da história do Brasil, país líder em número de usuários na rede. Afinal, como esquecer tantas comunidades que se tornaram memes, os testimonials emocionados, o reencontro com velhos amigos até o limbo dos gifs animados na página de recados?
Sim, fomos nós que abandonamos esse grande amigo: com o tempo, a experiência do site foi desestimulando os usuários, mas a memória afetiva ainda permanece — e deixa lições muito importantes sobre interatividade, devidamente aprendidas pelo Facebook e por outras mídias sociais que hoje dominam os celulares brasileiros.
Inicialmente, os usuários eram atraídos pela possibilidade de interagir nos perfis dos amigos e nas comunidades. Com o crescimento, o propósito da interação foi ficando limitado. Se a intenção era saber das novidades, quanto mais a rede crescia, mais difícil era acompanhar o conteúdo, já que para isso era preciso acessar cada canal individualmente.
A revolução Facebook (2004)
Lançado em 2004 como rede de relacionamento entre universitários americanos, o Facebook foi expandido globalmente com uma ambição muito clara do fundador Mark Zuckerberg: criar um serviço que capturasse a totalidade da conectividade humana para estabelecer, o que se podia dizer, a máquina definitiva de relacionamentos. Conforme contou o jornalista David Kirkpatrick no livro O Efeito Facebook, lançado em 2010:
Há anos se brinca nos escritórios do Facebook que o objetivo da empresa é a “dominação total”. Mas a razão de isso ser engraçado é que evoca uma verdade surpreendente. Zuckerberg percebeu há muito tempo que a maioria dos usuários não se empenharia em criar vários perfis em diversas redes de relacionamento. Também sabia, a partir de infindáveis papos com os amigos em Harvard e em Palo Alto sobre os “efeitos da rede”, que, uma vez iniciada a consolidação de uma plataforma de comunicações, isso pode se acelerar e fazer com que ela se torne quase um monopólio: as pessoas vão aderir às ferramentas de comunicação que já estejam sendo usadas pelo maior número de outras pessoas. Assim, sua meta passou a ser criar uma ferramenta não para os Estados Unidos, mas para o mundo. O objetivo era superar todas as outras redes sociais, onde quer que estivessem, conquistar seus usuários e tornar-se, na prática, a rede padrão.
Pelo jeito ele sabia exatamente o que estava fazendo, não é? Trocando em miúdos: o Facebook faz tudo o que é possível para tornar a sua vida social dependente da rede. Por isso é tão difícil sair.
Lembrar a trajetória do Orkut é fundamental para compreender a lógica de abandono de seus usuários, bem como compreender o diferencial apresentado pelo “Feed de Notícias” adicionado à plataforma em setembro de 2006. Foi praticamente uma ressuscitação, já que o Facebook vinha perdendo força na época.
Segundo Zuckerberg, não era apenas um novo recurso, mas uma mudança radical que representava a grande evolução do produto: não à toa, as visualizações de página saltaram de 12 bilhões para 22 bilhões de agosto para outubro daquele ano.
Os 140 caracteres do Twitter (2006)
Fundado em março de 2006, o Twitter certamente foi uma das inspirações para o feed de notícias do Facebook. A ideia de relacionar atualizações de status breves, de no máximo 140 caracteres, em ordem cronológica, conquistou o mundo e o mercado: embora algumas empresas se adequem mais às suas vantagens únicas do que outras, não há como negar que todas podem se beneficiar com a plataforma de alguma maneira.
Hoje com mais de 300 milhões de usuários no mundo, o Twitter se reinventa todos os dias e mantém um público fiel. A plataforma também é a prova de que a internet não necessariamente vai “matar” a TV, já que os trending topics geralmente estão relacionados a atrações da telinha. Uma boa dica para inspirar estratégias de marketing crossmedia!
O espetáculo das imagens no Instagram (2010)
O Instagram praticamente adotou a dinâmica do Twitter, mas explorou outro universo baseado em uma das características mais marcantes nos seres humanos: somos seres extremamente visuais. Trata-se de uma excelente ferramenta que temos à disposição para construir e ampliar a visibilidade das nossas marcas pessoais e profissionais e de nossos negócios.
O Brasil está no segundo lugar no ranking de usuários, com 50 milhões de pessoas, atrás apenas dos Estados Unidos. Ao todo, são mais de 500 milhões de instagrammers ativos mensalmente, de modo que o tempo investido na plataforma a torna cada vez mais interessante para o mercado. Conforme afirmou Rafael Santos no livro InstaPRO, a taxa média de engajamento no Insta é de aproximadamente 4,21%, contra 0,07% do Facebook e 0,03% do Twitter.
A última grande sacada da rede, lançada no segundo semestre de 2016, foi o recurso Instagram Stories, inspirado pelo sucesso do então recém-popularizado Snapchat. Em seguida, o mesmo recurso foi adotado pelo Facebook.
As novidades do Snapchat (2011)
O Snapchat só caiu nas graças do grande público entre 2014 e 2016, quando atingiu 10 bilhões de visualizações diárias de vídeo. Mas na verdade foi lançado em 2011, quando tinha apenas 127 usuários. Conforme a ideia original, assim que postado pelo usuário, cada conteúdo fica disponível para seus seguidores por vinte e quatro horas e depois desaparecem.
Com esse perfil, o Snap ficou conhecido pela troca de nudes, mas é impossível reduzir o potencial da plataforma apenas a essa prática. Existem funções de conversas, trocas de fotos e vídeos, conferências em tempo real e filtros divertidos que fizeram dessa mídia social a mais popular em vários países. No entanto, o crescimento das funções Facebook e Instagram Stories tirou uma fatia enorme de mercado do Snapchat, que hoje está com dificuldades de se reinventar e atrair um novo público.
Observando a história das mídias sociais nos últimos anos, conseguimos perceber por que o Facebook é líder absoluto em meio a toda essa teia de novidades: de alguma forma, Mark Zuckerberg não teve medo de copiar o que era bom e nem aprimorar ideias ruins dos concorrentes fazendo o movimento contrário.
Ao descrever a trajetória da rede, hoje com mais de 2 bilhões de usuários em todo o mundo, o autor de “O Efeito Facebook” concluiu muitos dos componentes do Facebook foram originalmente lançados por outros e que o serviço é herdeiro de ideias que vêm evoluindo há quase quarenta anos.
Nos resta agora refletir sobre o poder que tal cenário confere à empresa, o que já começou a ser debatido após o escândalo da Cambridge Analytica. Mas isso é papo para outro post! Por enquanto, você pode descobrir como explorar todo o potencial da ferramenta a seu favor lendo o nosso guia sobre como aumentar seu alcance no Facebook.